1.
Mas que tédio são os dias
onde cantam as cotovias...
Não há drogas, não há vida:
nunca houve um suicida...
Pus os meus barcos no mar
mas não querem navegar...
Tenho moinhos de vento
mas eles giram tão lento...
Nas ruas, todas tão planas,
passam manhãs cotidianas.
Mas que tédio são os dias
onde cantam as cotovias...
2.
cantam outros passarinhos
canções de todos os dias...
Quando acordo no meu ninho
já cansado de morrer
não há sangue, nem vizinho
a quem possa recorrer.
— E esse silêncio lá fora
que não me deixa escrever!
Como eu queria ir embora,
voltar pras minhas orgias,
e me esquecer da aurora
onde cantam as cotovias...