02/07/2013

Poema vadio

Numa rua qualquer eu vejo um cão
e o cão me vê.
Nos entreolhamos: não há anteolhos
nem filosofias.

Vejo o cão mas não reparo o cão
e nem o cão desvenda
o meu segredo.
Não há trânsito.

Daqui a pouco o cão irá passar
- eu também hei de passar -
e nada disso terá importância.
Mas há algo novo, inteiramente novo
acontecendo aqui:

entre mim e o cão
um poema
se elabora.

E pra qualquer lado que decidirmos ir,
a partir de agora, será a caminho
da eternidade.

A. F.