*Favela da Praia do Pinto, Leblon, quando de sua remoção
pelos governos militar e do estado da Guanabara, em 1969.
Pra princesa do Leblon
só importava seu cabelo.
Tiros? Berros? Tudo sons
do exagero brasileiro.
É que os gritos mais bisonhos
não chegavam ao castelo.
Era ryca e só em sonho
conhecera o pesadelo.
não chegavam ao castelo.
Era ryca e só em sonho
conhecera o pesadelo.
Se o cabelo estava bom,
o mundo também devia
estar. O mundo é o Leblon
— plano, alheio à maresia.
o mundo também devia
estar. O mundo é o Leblon
— plano, alheio à maresia.
Em casa, pela janela
do Facebook, ela via
casos de morte — que ela
dava um "amei" e esquecia.
do Facebook, ela via
casos de morte — que ela
dava um "amei" e esquecia.
A princesa do Leblon
vai ao salão todo dia.
Gosta do Leblon, só não
gosta da democracia.
vai ao salão todo dia.
Gosta do Leblon, só não
gosta da democracia.
Quando volta do salão,
bonita que é um desaforo,
a princesa do Leblon
vê crianças no semáforo.
bonita que é um desaforo,
a princesa do Leblon
vê crianças no semáforo.
— Um assalto em cada esquina,
diz a princesa. E treme:
— Se abaixo o vidro? Magina.
Não por medo. Por higiene.
diz a princesa. E treme:
— Se abaixo o vidro? Magina.
Não por medo. Por higiene.
A democracia é cheia
de povo, uma grande merda.
Como pode gente feia
andar assim, descoberta?
de povo, uma grande merda.
Como pode gente feia
andar assim, descoberta?
Mas hoje ela esqueceu
o vidro do carro aberto
e ao parar no sinal deu
com a pobreza bem de perto.
o vidro do carro aberto
e ao parar no sinal deu
com a pobreza bem de perto.
A princesa do Leblon,
limpinha pois de direita,
sentiu roçar sobre a mão
uma obscena mão preta.
limpinha pois de direita,
sentiu roçar sobre a mão
uma obscena mão preta.
Era um menino pedindo
dinheiro ou vendendo bala
ou seja lá o que um retinto
faz quando um carro para.
dinheiro ou vendendo bala
ou seja lá o que um retinto
faz quando um carro para.
Achando que era o assalto
que viu na televisão,
acelerou de salto alto,
recolheu rápido a mão
que viu na televisão,
acelerou de salto alto,
recolheu rápido a mão
e acabou quebrando a unha.
Tomava agora ciência,
com só Deus de testemunha.
Chegou nela a violência.
Tomava agora ciência,
com só Deus de testemunha.
Chegou nela a violência.
A princesa do Leblon
agora está indignada:
tem que voltar pro salão,
consertar a unha quebrada.
agora está indignada:
tem que voltar pro salão,
consertar a unha quebrada.
— Que país é esse que não
pode uma pobre princesa
por pra fora a branca mão
pra ir secando a unha feita?
pode uma pobre princesa
por pra fora a branca mão
pra ir secando a unha feita?
A princesa do Leblon
exige mais segurança.
Ou vai sair do Leblon,
ela e todos os Bragança.
exige mais segurança.
Ou vai sair do Leblon,
ela e todos os Bragança.
A. F.
Perfeito!
ResponderExcluirE hoje vimos mais um desmanche de moradias, mais desabrigados a esmo...